Imagine
as pessoas vivendo ao pé de uma montanha, num lugar pantanoso e
quente, subalimentados, doentes. E ouvem dizer que existe um
maravilhoso platô no topo da montanha, com frutas e flores, ar
fresco e saudável, água pura. Mas a subida é árdua, e elas têm
de abandonar suas poucas e miseráveis possessões para trás, e por
isso eles ficam onde estão.
Apenas
uns poucos dos mais aventureiros, buscando o topo da montanha ou
simplesmente lutando para se colocar fora daquele lugar quente,
doentio e cheio de insetos, conseguem subir alguma distância e vêm
a morar em lugares mais altos. Os moradores do fundo se referem a
eles como “as pessoas da montanha”, mas ainda assim entre estes
moradores existem inúmeras diferenças.
Alguns
podem ter desenvolvido uma fazenda com frutas, leite e grãos para
dar aos doentes e necessitados lá de baixo, enquanto outros podem
descansar numa caverna da montanha tendo apenas um pouco mais do que
precisam para viver. Alguns podem dirigir-se a uma aventura para
alcançar o topo, enquanto outros são impulsionados meramente pela
necessidade de alcançar um lugar mais alto onde haja ar fresco e
ambientes mais belos e saudáveis, sem nem mesmo saberem que existe
um topo aonde chegar.

Mesmo
entre os que começaram planejando chegar ao topo, alguns desistiram
do objetivo após algum tempo, enquanto outros podem considerar cada
lugar prazenteiro que alcançam como apenas um local de descanso do
qual planejam alcançar o próximo estágio da subida.
Do
mesmo modo são variadas as pessoas conhecidas como “santos” e
yogues. Não apenas em seu nível de evolução, mas também variam
em seu entendimento da meta e em sua dedicação para lutar em
direção a ela. Também nos poderes que eles manifestam e os
benefícios que concedem a outros.
Na
Igreja Católica, um dos critérios para ser considerado santo é
realizar milagres. O poder pode fluir através de um santo ou yogue,
mas não é necessário que ele se interesse em manifestar poderes.
Além disso, possuir poderes não é prova de santidade.
Voltando
ao exemplo dado, existe um flanco da montanha onde a subida é mais
difícil, sem lugares prazenteiros no caminho onde descansar, mas
para compensar, neste flanco o caminho é direto e o pico é visível
desde muito antes. Este é o caminho direto ensinado por Bhagavan.
Não existem estágios neste caminho.
Os
seguidores de Bhagavan ficam impacientes quando ouvem falar de
estágios ou graus de realização que existem em algum caminho
indireto, e dizem: “O que isto significa? Ou um homem realizou o Eu
ou não”.
Esta
atitude é correta no tocante ao caminho deles, mas não
necessariamente em relação aos outros, pois existem caminhos nos
quais o viajante não tem como objetivo a realização do Eu, o fim
último da Verdade Suprema, ou ao menos não diretamente, e o termo
'realização' é usado com um significado diferente, denotando
meramente a obtenção de um estado mais elevado, o qual entretanto é
igualmente transitório e ilusório sob o ponto de vista da realidade
do Eu. Entretanto, embora o viajante do caminho direto não obtenha
regiões mais elevadas ao longo dele, ele pode ser abençoado com
percepções de pura auto-realização, que irradiam luz em toda sua
vida.
Existem,
portanto, duas maneiras de subida consciente: aquela do homem que
sobe em estágios, ficando estabilizado nesta vida em algum estado
mais elevado, possivelmente com poderes mentais, mas sem um
conhecimento direto do estado supremo de auto-realização; e aquela
do homem que objetiva a verdade suprema, luta em direção a ela,
talvez com percepções ocasionais de sua Realização, mas que até
consegui-la, não está estabilizado em qualquer estado superior.
Qual
caminho é preferível? A pergunta é irrealista, uma vez que cada
aspirante seguirá o caminho que se adapta a seu temperamento e que
seu destino torna disponível.
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