4.3.16

ABAIXO A AUTOPIEDADE – Prof. Hermógenes


Tenho um amigo, cientista ilustre e respeitado, dono de grandes propriedades. Tem carro bonito. Pertence a família ilustre. Tem apenas um ou dois aspectos onde a vida não o favoreceu na medida em que gostaria. Fechando os olhos a tudo quanto tem, vê em torno de si apenas tristezas, infelicidades e frustrações. Vive abatido a reclamar de tudo. Lastima-se invariavelmente sempre que me vê. Sob o ponto de vista comum, é um ricaço. Sob o ponto de vista da realidade, ele o é?

Aurino é um "pobre" homem, que em toda sua vida tem estado em cama de paralítico. Cresceu na horizontal. De seu leito "pobre" de enfermo, dirige, no entanto, uma grande empresa. Uma empresa de serviço. O serviço que oferece ao público é essencial, pois corresponde a uma necessidade praticamente universal. A empresa de quem poderia viver pedindo esmola presta exatamente o serviço de assistência, de ajuda, de amparo aos necessitados de saúde e meios de vida. O "pobre" Aurino é um catalisador de amor, de beneficência, de humanitarismo. Mas, que milagres o espírito não efetiva?! O "pobre" é sempre encontrado em Bangu disposto a auxiliar a todos os "ricaços" como meu amigo lamuriento.

O infeliz ainda mais infeliz se torna se, imprudentemente, mendiga felicidade. O intranqüilo aumenta sua inquietude com o mendigar paz. O incompreendido ainda mais inaceitável se torna, pelas reclamações que despeja sobre os outros. Ninguém pode ter admiração por um sujeito que anda à caça de ser admirado. Quem pode respeitar aquele cuja maior preocupação é fazer-se admirado? Aquele que se reconhece injustiçado e sem correspondência amorosa, e vive a pedir amor, dificilmente pode ser amado.

Não conheço quem sofra pela prodigalidade da ajuda que dá. O mundo no entanto está cheio de gente que se desgraçou por tanto pedir. Se você tem cometido o erro de reconhecer-se vazio de muitas coisas e, no sentido de preenchê-las, vive a solicitar do mundo e dos outros que lhe concedam favores, que lhe atendam os rogos, você dificilmente será feliz.

Primeiro, porque o mundo e as pessoas não gostam de atender aos vazios, aos indigentes, aos dependentes, aos que se reconhecem fracos, incompletos, carentes de respeito, desamados, incompreendidos, necessitados, deserdados.

Em segundo lugar, porque você se está enterrando na infelicidade ainda mais, pelo fato de reconhecer-se carente, decaído, necessitado, fraco, incapaz, miserável; por estar criando um auto-retrato negativo e mórbido.

Você já sabe o que é o subconsciente como um "servomecanismo"? Ou melhor, você sabe o que é um "servo-mecanismo"? Se já sabe, desculpe. Preciso no entanto explicar a quem não sabe. "Servo-mecanismo" é uma máquina cibernética (no estilo do cérebro eletrônico), que funciona de forma que, ao receber um nítida missão a cumprir, exata e fielmente a cumpre. Assim são os torpedos e os foguetes autodirigidos que, em hipótese alguma, erram o alvo.

Pois bem, o "servo-mecanismo" de seu subconsciente, a toda hora, recebe a missão que você lhe dá, através da imagem que faz de si mesmo (autoretrato). Cega e fatalmente cumpre a missão, isto é, com seu tremendo poder, faz de você o que você tem imaginado ser. Se você se vê como um desgraçado despojado de paz, força, saúde, amor, compreensão, respeito. . . finalmente de tudo que você ainda anda mendigando, então, a toda hora, a máquina cibernética de seu subconsciente está fazendo do desgraçado que você imagina, um desgraçado real.

Quando, em vez de pedir ajuda, você passa a dar, você está, pelas mesmas razões e segundo as mesmas leis, aumentando sua capacidade de ajudar. Se em vez de pedir que lhe amem, você ama sem se ressentir com a não reciprocidade; se você ama incondicionalmente, se "ama por amor ao amor", então, recebe o amor. Não por pedir. Mas em virtude de lei universal.

Se você aprende a dar de si, verá aumentar a fortuna daquilo que aos outros tem dado. Se você é positivo, emitindo, distribuindo, ofertando, ajudando, compreendendo, estimulando, criando, irradiando, se se fez um auto-retrato positivo, será cada vez maior sua riqueza, maior a expansão de si mesmo, maiores os transbordamentos sobre os limites precários do humano ser "normal". Se você, esquecido das incompreensões de que tem sido vítima, gosta de dar compreensão a todos, virá a vencer também neste aspecto da vida.

Quem pede está vazio. Quem oferta tem para dar. Quem se lamenta atrai maiores razões para mais se lamentar. Chegou a hora, meu amigo, de pensar em viver à sua própria custa, com seus recursos, com o pouco que possa ter, contentar-se com o que tem, de recusar-se a mendigar, a depender do que lhe concederem. .. Não por orgulho ou vaidade, mas por medida profilática, isto é, para evitar afundar-se nos escuros domínios da indigência material, psíquica e espiritual.

Se você se lembrar que o "Reino de Deus" está dentro de você, e é um tesouro de felicidade, então, não na condição de mendigo, mas de hábil e confiante garimpeiro, dele retirará aquilo de que necessita para si e ainda mais para dar aos outros. Dê, sem ligar se o tesouro vai exaurir-se e acabar. Os bens materiais podem, materialmente, diminuir, na medida em que os esbanjamos. Os bens espirituais, ao contrário, crescem na proporção que com ele beneficiamos os outros.

Vamos fazer esta experiência? Se até hoje, por palavras, gestos de desânimo, olhar indigente, gemidos e mesmo através das descrições de seus sintomas, comportou-se como alguém que mendiga piedade, simpatia, palavras de caridade ou qualquer forma de ajuda, agora mesmo assuma o compromisso de evitar que os outros tenham "peninha" de você.

Erga a cabeça, mesmo que a dor o queira vencer. Brilhem seus olhos. Sorriam sempre seus lábios. Substitua seus ais pelas notas de qualquer musiquinha animada. Não peça. Ofereça. Não capitule diante do velho hábito de posar de coitadinho. Mesmo que você esteja em sofrimento, no chão, em pedaços, quando alguém lhe dirigir o convencional "como vai?", responda-lhe sorrindo: "Vou bem. Não vou melhor para não fazer inveja".

Experimente este miraculoso tratamento. Abaixo as lamúrias! Nunca mais a autopiedade nem a piedade dos outros!

 


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