Chama-se
relaxamento o estado oposto à tensão, isto é, a ausência de
contrações e esforços. Estando relaxados os músculos, os nervos
que os comandam não transmitem mensagem alguma. Inativos, feito fios
elétricos desligados, por eles não transitam impulsos,
possibilitando, assim, repouso aos centros nervosos. Nesta condição,
os reflexos se acalmam. O corpo fica igual a um aparelho elétrico
desligado da corrente.
Hoje é
comum que, ao invés de comprimidos e injeções, o médico
recomende: relaxe.
Tem
sido receitado para fatigados, neuróticos, aflitos, insones,
cardíacos, dispépticos e convalescentes. Nos casos de doença
psicogênica (engendrada pela mente) é freqüente o médico
receitar: "Vá para casa. Nada de aborrecimentos. Descanse.
Relaxe!"
Relaxar
é remédio eficaz. Mas como é difícil! É muito mais fácil tomar
certas poções abomináveis, ser picado de agulha e engolir
bolinhas.
Sem
pertinaz treinamento e Hatha Yoga não é possível relaxar. Digo-o
para que o neófito, necessitado e de boa-fé, não venha a se
desanimar perante as dificuldades iniciais, que vai encontrar.
Relaxar
é afrouxar-se. É desligar-se. É abandonar-se. É derramar-se
passivamente. Ausentar-se por uns instantes da ansiedade e da luta.
Relaxar é economizar esforços. É despojar- se da normal
e
eficiente stressora
auto-afirmação.
Relaxar é gozar repouso. É amolecer-se. É desfrutar os inefáveis
prazeres do fazer
absolutamente nada.
Para um
neurótico inquieto e ansioso, relaxar é difícil. Compreende-se.
Representa um ato de coragem, de crença, de segurança, que
exatamente ele não tem. É um entregar-se todo, sem restrições,
sem preocupação com um sistema de segurança.
E isso é
impossível. O neurótico, vivendo exausto, em guarda, a defender-se
de misterioso e supostamente presumível assalto, não consegue, com
facilidade, mandar dormir todas as sentinelas que tem colocado ao
redor para sua defesa. Por outro lado, se o neurótico, insistindo e
tirando proveito de outras técnicas, conseguir aprimorar a arte de
relaxar, conseqüente e simultaneamente, estará se libertando da
neurose. Estará vencendo o medo, acalmando a ansiedade, ganhando
coragem e estímulos de vida.
Na mesma
medida que o neurótico sente dificuldades em relaxar, o homem
verdadeiramente religioso sente grande possibilidade e enorme prazer.
Com o religioso,
tudo é fácil, pois ele tem fé. Entrega-se todo, facilmente, graças
à crença que tem na onipresença, onisciência e onipotência do
Ser Supremo. Sabe convictamente que melhores serão os resultados
desde que mais intensa e incondicionalmente se abandone nas mãos da
Consciência Suprema, remédio para todos os males, solução para
todos os problemas, paz para todos os
conflitos, alívio para todas as angústias, ajuda em todas as
aflições.
Ele sabe
que Deus é energia para suprir seu esvaziamento, a chave misteriosa
com que há de abrir as cadeias de suas servidões, o lenitivo para
todos seus ais, a alegria, até então ausente, a coragem para
levantar-se e avançar. . . O verdadeiro religioso faz do relax
um
ato essencialmente místico, porquanto consiste em doar-se, em
oferenda, no altar do Onipresente.
Para ele
o relax
é
um modo prático, concreto e vivencial de rezar o "seja feita a
Vossa Vontade". No relax,
confia-se
a Deus, sabendo que Ele cuidará de tudo melhor do que seu egozinho,
meio
esfacelado na luta quotidiana, tem feito.
Também
para o entendido em fisiologia, o relax
se
torna mais fácil porque ele vê as razões científicas do processo.
Quem tiver curiosidade de saber, procure ler em minhas obras
"Autoperfeição com Hatha Yoga" ou “Yoga para Nervosos”,
nas quais apresento um estudo mais ou menos detalhado da fisiologia
do sistema nervoso e suas relações com o endócrino.
Aqui,
posso dizer resumidamente que os centros da base do cérebro,
principalmente o hipotálamo, têm a seu cargo a regulação das
funções vegetativas, isto é, aquelas como a digestão, tensão
sangüínea, ritmo cardíaco, assimilação, e muitas outras, que nos
fogem ao controle voluntário. Tais centros, por muitas causas e
razões, inclusive a fadiga, a toxidez, traumas psíquicos e mesmo
físicos, se perturbam em seus deveres e passam a emitir comandos
neurais bem disparatados e impróprios, mercê de verdadeiros
curto-circuitos ou ligações anômalas, provocando, assim, mil e um
transtornos funcionais, não obstante os órgãos estejam normais.
Estas
ligações errôneas podem ser corrigidas. Mas a vida de tensão, ao
contrário, lhes dá mais condições
de ser. Reativam-se.
Reafirmam-se. Revigoram-se. . . O relax
pode
apagar tais sulcos, desfazer tais ligações, corrigir os defeitos
instalados nesses centros nervosos.
A dose
diária de minutos de inatividade por relax,
pouco
a pouco, reduzirá não só os efeitos, mas suas próprias causas. De
maneira semelhante, o relax
atua
sobre a glândula hipófise, a maestrina de todo sistema endócrino,
e, assim, consegue fazer as demais glândulas retomarem o ritmo de
saúde.
Conseqüentemente,
corrigem-se todos os padecimentos causados pelos excessos ou
carências de hormônios no corpo. Não é apenas sobre os centros de
comando neuro-hormonal que o relax
atua,
corrigindo-os.
Age
também — como que abençoado alívio — sobre os músculos,
glândulas, vísceras e órgãos, sobre os quais tais centros exercem
comando. Quando em relax,
um
órgão se comporta como um soldado dormindo e, assim, não cumpre a
ordem estapafúrdia de um superior hierárquico meio perturbado.
Em
outras palavras, os tecidos em estado de yoganidra
(letargia),
não reagem aos comandos anormais e perturbadores. Ficam quase
inertes e amolecidos. E, assim, os sintomas não conseguem se
manifestar.
Os
estudiosos de fisiologia têm razões para acreditar na
relaxoterapia. Vêem o relax
corrigir,
por quase inação, os centros de comando. Vêem o relax
sustar
a execução das ordens
insanas partidas dos centros fatigados. Vêem o relax
agir
corretivamente, ao mesmo tempo, sobre toda escala hierárquica da
fisiologia: sobre os que regulam e sobre os regulados. Vêem o relax
restaurar
a homeostase perdida.

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