3.3.16

OCUPE SUA VIDA – Prof. Hermógenes


Enquanto o homem não inventara a agricultura e vivia somente da coleta, caça e pesca, tinha uma vida árdua e totalmente ocupada com o estômago e com o abrigo. Era obrigado a um viver nômade, sem pouso nem descanso.

Inventada a agricultura, portanto, sentindo-se mais independente da natureza, à qual passou a obrigar a fornecer-lhe alimentos, em tribos e famílias, começaram os homens a se fixar, iniciando-se dessa forma, a vida sedentária.

O sedentarismo deu começo à civilização, pois proporcionava ao ex-nômade uma folga, um tempo de lazer, já que não era totalmente necessário lutar interruptamente pelo alimento, e, assim, nos momentos de ócio, dedicou-se à arte. E o pensamento se desenvolveu. Quem é obrigado a buscar o pão de cada dia, sem um pingo de folga, que possibilidades tem de meditar, de criar e de inventar algo melhor?

O lazer do homem primitivo criou e desenvolveu a ciência, a filosofia e a arte. O mesmo tempo vago, que impulsionou o ser humano para cultivar o espírito e desenvolver a mente, tem sido hoje, no entanto, responsável pelo desequilíbrio dos nervos e sofrimento mental de muitas pessoas.

Não é raro encontrar quem, ou por atitude neurótica ou por abastança financeira ou por educação errônea, nada ou pouco faz de útil. Os empregados fazem tudo. O tempo sobra, sobra demais. O vazio atrai o tédio. Assim como para a depressão do terreno correm as águas da chuva, o tédio corre para o coração do ocioso. Com o tédio pode vir quase sempre a distonia do simpático e a psiconeurose.

Sou conhecedor de muitos casos de oficiais das forças armadas que, aproveitando a suposta vantagem de uma reforma do serviço ativo quando ainda relativamente jovens, dentro de poucos meses de inatividade, se viram presas do sentimento de inutilidade e frustração. Alguns arranjaram um novo emprego e, assim, conseguiram manter o equilíbrio emocional.

Se por quaisquer circunstâncias, você está desocupado, vendo monótonos dias se arrastarem morosos e improdutivos, se o "fazer nada" está enchendo-o de tédio, recorra àquilo que é chamado de terapêutica ocupacional ou ergoterapia. Ergo significa trabalho. Assuma a responsabilidade por um afazer qualquer.

Comece a sentir-se capaz. Trate de criar alguma coisa. Isto o aliviará. Adquira pincéis e tintas e pinte. Aprenda um instrumento e faça música. Cuide do canteiro. Arrume a casa. . .

Mas a ocupação que dará mais significativas e profundas horas de bem-estar, integração e equilíbrio psíquico é a que lhe der oportunidade de sentir-se útil e, melhor ainda, necessário a alguém. Garanto que uma senhora infeliz e inutilizada pela vida de conforto e lazer excessivos, gozará de grande alegria espiritual se dedicar seus dias à assistência social.

É o serviço inegoísta, o que liberta e integra o psiquismo. Trabalhar para si e para os seus evita o tédio.

A caridade que é tida por alguns como o único meio de salvação é diferente do que se chama Karma Yoga. Qualquer que seja o interesse egoístico que motive o servir aos outros, pode reduzir o valor espiritual do trabalho, mesmo que este interesse seja ganhar o céu.

Fazer "caridade" por ostentação, como "hobby", porque está na moda ou por mero passatempo e mesmo para salvar-se e ganhar as bênçãos de Deus e galgar o céu, espiritualmente, é ação ainda frustradora por ser egoística. Mas, é bem melhor do que o ócio e a vadiagem.




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