3.1.13

ALEXANDRE, O GRANDE - P. Yogananda


O aspecto mais admirável da fracassada invasão de Alexandre, o Grande, à Índia foi o profundo interesse que ele demonstrou pela filosofia hindu e pelos jogues e santos, encontrados intermitentemente, cuja companhia ele buscava com ansiedade. Pouco depois de chegar o guerreiro ocidental a Taxila, na região norte da índia, enviou Onesikritos, discípulo da escola helênica de Diógenes, à procura de um grande sábio de Taxila, Dandamis.

- Salve, ó mestre dos brâmanes! - disse Onesikrítos, depois de encontrar Dandamis em seu retiro na floresta. - O filho do poderoso Zeus, Alexandre, soberano senhor de todos os homens, solicita a sua presença. Se consentir, ele o recompensará com grandes dádivas; se recusar, ele lhe cortará a cabeça!

O iogue recebeu com toda calma este convite absolutamente compulsório e não fez mais que erguer a cabeça de seu leito de folhas.

- Eu também sou filho de Zeus, se Alexandre o é - comentou ele. - Nada quero do que pertence a Alexandre, pois estou contente com o que tenho, enquanto observo que ele vagueia, errante com seus homens, através de mares e terras, sem nenhum proveito, e nunca põe fim às suas andanças. Vá e diga a Alexandre que Deus, o Supremo Rei, jamais é o Autor de erros insolentes, mas o Criador da luz, da paz, da vida, da água, do corpo humano, das almas; Ele recebe todos os homens quando a morte os libera e não está sujeito, em absoluto, à doença fatal. Unicamente Ele é o Deus de minhas
homenagens, que abomina o assassínio e não incita guerras. Alexandre não é nenhum deus, uma vez que deverá provar o gosto da morte - continuou o sábio, com tranqüilo desdém. - Como pode alguém como ele ser o senhor do mundo, quando ainda não conseguiu se instalar no trono do domínio interno do universo? Nem entrou vivo ainda na região dos mortos, nem mesmo conhece o percurso do sol sobre vastas nações da Terra. Muitas nem sequer ouviram o seu nome!


Após este castigo - sem dúvida, o mais cáustico dos que investiram contra os ouvidos do “Senhor do Mundo”- o sábio acrescentou ironicamente:

- Se os domínios atuais de Alexandre não são bastante espaçosos para os seus desejos, que ele atravesse o Ganges; ali encontrará um país capaz de sustentar todos os seus homens. As dádivas que Alexandre promete são inúteis para mim - continuou Dandamis. - O que eu aprecio e tem real valor são árvores, que constituem meu abrigo; plantas viçosas que me fornecem o alimento diário; e água que me sacia a sede. Bens acumulados com preocupação e ansiedade tendem a revelar-se ruinosos àqueles que os ajuntaram, produzindo somente a tristeza e a vergonha que afligem tantos homens não iluminados. Quanto a mim, deito-me sobre folhas na selva, e nada possuindo para guardar, fecho os olhos em sono tranqüilo; ao passo que, se tivesse algo de valor para o mundo, esse peso me tiraria o sono. A terra me fornece tudo o que preciso, semelhante à mãe que amamenta o filho. Vou aonde quero, não onerado por cuidados materiais. Se Alexandre me cortar a cabeça, não poderá também destruir minha alma. Minha cabeça, então silenciosa, e meu corpo, como um traje rasgado, permanecerão na terra, donde seus elementos químicos foram extraídos. Eu, então, vindo a ser Espírito, subirei a Deus. A todos nós Ele enclausurou na carne, e nos colocou na Terra para verificar se, aqui em baixo, viveríamos em obediência aos Seus mandamentos; e Ele nos exigirá, ao partirmos daqui, a prestação de contas de nossas vidas. Ele é o juiz de todo o mal praticado; os queixumes do oprimido ordenam a punição do opressor. Deixe que Alexandre aterrorize com ameaças os homens que ambicionam riquezas e temem a morte. Contra os brâmanes, suas armas são inofensivas; nós nem amamos o ouro nem receamos a morte. Vá, pois, e diga a Alexandre isto: - Dandamis não precisa das suas ninharias e por isso não irá; e se Alexandre quer alguma coisa de Dandamis, que venha ele mesmo até aqui.

Onesikritos transmitiu devidamente a mensagem; Alexandre ouviu-a com atenção concentrada e sentiu, mais forte que nunca, o desejo de ver Dandamis; reconhecendo neste, apesar de velho e nu, alguém que lhe era superior, único antagonista invencível do conquistador de numerosas nações.


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