3.1.13

SHIVA E PÁRVATI - P. Yogananda


Na mitologia, Párvati é representada como filha do Rei Himalaia (literalmente, “domicílio das neves”), cujo lar é certo pico na fronteira do Tibete. Viajantes atônitos, passando ao sopé do pico inacessível, enxergam, na distância, vasta estrutura de neve, semelhante a um palácio, com torres e cúpulas de gelo.

Párvati, Káli, Durga, Uma e outras deusas são aspectos de Jagânmátri, “Divina Mãe do Cosmos”; seus diversos nomes destinam-se a salientar funções especiais. Deus ou Shiva em seu aspecto para ou transcendente, é inativo na criação; Seu shakti (energia, força ativante) é relegado a Suas “consortes”, os poderes femininos criadores que possibilitam os infinitos desdobramentos do cosmos.

Histórias mitológicas nos Purânas dão o Himalaia como domicílio de Shiva. A deusa Ganga desce do céu para ser a divindade que preside ao rio cuja nascente se situa no Himalaia; por isso, diz-se poeticamente que o Ganges flui do céu para a terra através dos cabelos de Shiva, “Rei dos logues” e o Aspecto Destruidor-Renovador da Trindade. 

Kalidasa, o “Shakespeare da India”, descreveu o Himalaia como o “riso maciço de Shiva”. “O leitor pode imaginar aquela cadeia de grandes dentes brancos - escreve F. W. Thomas em A Herança da India (Oxford) - mas a imagem integral lhe pode escapar a não ser que perceba a figura do majestoso Asceta, eternamente entronizado na mais elevada montanha do mundo; ali, ao descer do céu, o Ganges passa entre mechas emaranhadas do cabelo de Shiva, tendo a Lua como jóia de sua crista montanhosa”.

Na arte indiana, Shiva apresenta-se comumente usando uma pele de antílope, de negrume veludoso, simbolizando a escuridão e o mistério da Noite - único traje Daquele que é digâmbara, “vestido de céu”. Certos sectários de Shiva não usam roupa, em honra
ao Senhor que nada possui -e possui tudo.



Um dos santos patronos de Cachemira, do século 14, Lallá Yogíswari (“Suprema Senhora da Ioga”) era, “vestida de céu”, uma devota de Shiva. Um contemporâneo escandalizado perguntou à santa por que ela adotava a nudez. “Por que não?”, Lallá respondeu com mordacidade. “Não veio nenhum homem por aqui”.

Segundo o modo de pensar, um tanto drástico, de Lallá, quem não possui a realização de Deus não merece o nome de “homem”. A santa praticava uma técnica, de estreito parentesco com Kriya Yoga, cuja eficiência ela cantou em numerosos quartetos. Traduzo aqui um deles:

“Que ácido de tristeza eu não bebi?
Inúmeras (foram) minhas rondas de nascimento e morte.
Vejam! nada, a não ser néctar em minha taça, (existe agora)
ingerido pela arte de respirar”.

Não sujeita à morte comum, a santa desmaterializou-se em fogo. Mais tarde, apareceu ante o povo magoado de sua cidade: uma forma viva envolta em trajes de ouro - por fim, inteiramente vestida!

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